1 de mai. de 2011

Uma Cidade Setecentista



27/12/2009             
           

            De um povoado, rota das boiadas que se dirigiam para os grandes centros consumidores no século 17, nasceu a cidade de Sobral, um dos maiores municípios do Ceará, que foi elevada à categoria de cidade em 1841. Localizada ao sopé da Serra de Meruoca e ao lado esquerdo do Rio Aracaú, com a construção, em 1882, da estrada de ferro que a ligava ao porto de Camocim se tornou o principal polo comercial do norte do Estado. Por ela era escoada a produção de couro, carne e algodão. A ligação com esse porto abriu as portas da Europa para a cidade, o que contribuiu com o eurocentrismo que alimentava os desejos e sonhos dos sobralenses, fazendo criar uma cultura inovadora e requintada que sobrevive nos seus prédios e casarios coloniais.
            Após o farto café da manhã e com as orientações dadas pelo recepcionista saí, na ensolarada manhã do último domingo do ano, em direção ao centro histórico.
            Em poucos minutos atravessei quatro quarteirões e cheguei ao Largo onde está localizada a Igreja de São Francisco. Entrei pela porta lateral e me acomodei em um dos bancos ao perceber que o sacerdote celebrava um batizado. Para não interromper o momento íntimo familiar, evitei me aproximar armando o tripé à distância e  fotografei os afrescos pintados, atrás do altar, com cenas de São Francisco. De lá segui pela rua lateral ladeada por casarios coloniais até o Museu Dom José, ao lado da Casa da Cultura e à frente da Praça São João.
            O Museu Diocesano, hoje denominado Museu Dom José com quase 30.000 peças em seu acervo, é considerado o 5º do Brasil em Arte Sacra e Decorativa pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM).  Além da expressiva coleção de arte sacra, com imagens, cálices, oratórios, castiçais e demais objetos de culto, possui coleções raras de transportes, como liteiras e cadeiras de arruar; porcelanas e cristais da Boêmia, Baccarat, Limoges, e louças de Companhia das Índias Ocidentais; pratarias, artesanato regional e arte indígena, além de um expressivo mobiliário em madeira de origem européia e brasileira.
            O acervo encerra toda a evolução do Vale do Acaraú; contando a história da iluminação, antes da energia elétrica, a partir de velas de carnaúba até os finos lustres de cristal da Boêmia.
            Grande parte das peças foi doada por famílias do norte cearense, numa época de hegemonia econômica e política de Sobral e teve como maior incentivador o seu fundador, Dom José Tupinambá da Frota, que colecionou as peças dos séculos 17, 18 e 19 entre os anos de  1916 e 1959.
            Em virtude do recesso de final de ano, o Museu  com 57 janelas externas dispostas ao longo de dois pisos, encontrava-se fechado e não pude conhecer o rico acervo de relíquias do passado sertanejo cearense.
            Na outra extremidade da Praça, encontra-se o Teatro São João, construído entre 1875 e 1880 por iniciativa da Sociedade Cultural União Sobralense. É o segundo Teatro mais antigo do Ceará, tem seu projeto arquitetônico inspirado no Teatro Santa Isabel do Recife. Em estilo neoclássico, frontão em arco com palco italiano e platéia em formato de ferradura, foi construído acompanhando a tendência européia adotada em vários teatros do Brasil. Em 1999 foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
            Além do Teatro e da Casa da Cultura, a Praça São João abriga a Escola de Música de Sobral e a Igreja Menino Deus. Como era época natalina, havia um presépio ao ar livre, onde várias crianças se divertiam tirando fotografias. Ainda permaneci alguns minutos admirando o reflexo da fachada do Teatro no pequeno lago  em meio ao cuidado jardim.
           Em seguida, pela Avenida Dr. Guarani cheguei ao Arco de Nossa Senhora de Fátima, construído em 1953 , por iniciativa de Dom José, como marco da visita da imagem peregrina de Nossa Senhora à Sobral. Teve como projetista Falb Rangel e foi execultado por Francisco Frutuoso do Vale, que também é o autor da imagem da Nossa Senhora que está no topo do Arco.
           Para aplacar o forte calor, comprei um sorvete na farmácia da esquina e continuei a caminhada até a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Matriz de Sobral.
            A Catedral da Sé, em estilo Barroco Pernambucano, cuja imponência e grandeza foi descrita em prosa pelo escritor sobralense Domingos Olímpio no livro Luzia-homem, foi iniciada em 1778 e concluída em 1783. Tem´na sua fachada pórtico com arco em pedraria de lioz de Portugal e na torre da esquerda um  relógio trazido de Paris.
            Da Praça da Sé, sigui em direção ao casario do século 18, ocupado pela Câmara Municipal e de lá fui até o pequeno bosque da Praça Duque de Caxias, onde, sob a sombra de uma frondosa árvore, sentei-me em um banco e aproveitei para comer uma barra de cereal. Logo depois, liguei para casa dando notícias. O visual é encantador! Diversas aves entoando seus cânticos, algumas pousando para bebericar água e outras para beliscar algum alimento disponível no chão.
           Retornei para o hotel cansada, porém impressionada e surpresa com o que  encontrei na charmosa e conservada cidade, dona de um patrimônio histórico de até dois séculos atrás em sobrados, igrejas e teatro.
           Encontro o simpático recepcionista que além de me dar um mapa da cidade, também me fala  sobre a cidade ter um importante parque industrial. Benefícios fiscais oferecidos pelo Estado atraíram indústrias que vêm contribuindo para o crescimento da economia da região. Como é o caso da Grendene, indústria de calçados do Rio Grande do Sul, que tem a sua maior fábrica em Sobral; indústria e artigos de couro, que deixa o Ceará em terceiro lugar no ranking nacional de exportadores; indústria têxtil e indústria de cimento, como a Votorantim.
Igreja de São Francisco






Casario colonial




Teatro S. João






Casario


Portal N. S. de Fátima 


 Matriz



Matriz






Igreja de S. Francisco








Painel da Igrja S. Francisco


Ruas de Sobral


Teatro
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         28/12/2009    Deiixando Sobral


Após o café da manhã saio em direção ao centro da cidade que, na segunda feira movimentada, em nada lembrava a tranquilidade do dia anterior. Entrei no Banco do Brasil, mas a fila era tamanha que resolvi passar quando retornasse da visita que faria à margem esquerda do Rio Acaraú.

Antes de alcançar a Rua Cel. Ernesto Diocleciano passei em frente a Igreja do Rosário dos Homens Pretos, que é a mais antiga de Sobral, construída em 1767. Uma breve parada para fotografá-la e me dirijo até a Praça Dr. José Saboia, de onde continuo em direção à Igreja das Dores, com sua torre única e um bem tratado jardim.
Igreja do Rosário dos Homens Pretos



Igreja das Dores
Desço uma escadaria e alcanço a margem esquerda do rio, que revitalizada em 2004, conta com espaço para caminhadas, quadras de esportes, campo de futebol e anfiteatro. O local tem uma visão espetacular da cúpula da Igreja da Sé, da Igreja das Dores e do Rio Acaraú com suas águas plácidas cruzadas, a todo instante, de um lado a outro por rústicas canoas.





Margem esquerda do Rio Acaraú.







Já se aproximava do meio dia quando retornei ao hotel. Check out feito e o taxi já estava aguardando para me deixar na rodoviária. O ônibus sairia às 14h30min e resolvi fazer um pequeno lanche. Depois de uma longa espera, saímos com mais de uma hora de atraso a bordo do ônibus da empresa Guanabara, proveniente de Fortaleza, com destino a Ubajara.




Em direção a Ubajara