30/12/2009
Eu nunca tinha estado no Piauí. Apesar de já conhecer algumas capitais nordestinas, Teresina nunca me despertou o interesse para conhecê-la, muito menos qualquer outro lugar deste Estado, até tomar conhecimento da riqueza natural e histórica que lá existe.
O Piauí é um Estado com a menor extensão de costa do Brasil. São apenas 66 km. Mas, apesar de sua beleza litorânea, é o interior que guarda surpresas inusitadas. Como o Parque Nacional de Sete Cidades, o Parque Nacional da Serra da Capivara e o Parque Nacional Serra das Confusões.
Cheguei à Praça do Relógio, ainda em Ubajara, antes das sete horas da manhã. Uma hora depois, com quarenta minutos de atraso, chega o ônibus da Roldtur, já estava achando que não viria mais e só fui chegar a meu destino três horas após. Pois entrou em todas as cidades por onde cruzamos e parou onde quer que alguém desse com a mão.
O ônibus era velho e a ventilação se dava pelas janelas abertas. Apesar das inúmeras paradas, não foi uma viagem desconfortável, pois aproveitei para observar os tipos físicos característicos dos locais, como também a paisagem que aos poucos se modificava, deixando para trás a vegetação serrana de Ibiapaba.
Às onze horas chegava à cidadezinha de Piripiri. E sabendo que não haveria transporte até o Parque, na própria rodoviária contratei um taxi. O outro meio de lá chegar seria de moto-taxi, possibilidade que logo rejeitei.
Parque Nacional de Sete Cidades – Cidades imaginárias
Ao norte do Piauí, numa área de vegetação característica da transição entre o Cerrado e a Caatinga, abrigam-se formações rochosas que ao longo de milhares de anos, o vento, as chuvas e a flora se encarregaram de esculpi-las, formando monumentos naturais que lembram imagens de animais, figuras humanas e símbolos.
Com seus picos e escarpas, essas formações de arenito instigam-nos a imaginar figuras intrigantes que compõem sete conjuntos conhecidos como Sete Cidades.
Apesar desses conjuntos de rochas já serem conhecidas como Sete Cidades pela população local desde 1886, só em 1961 os 6.221 hectares passaram a fazer parte do Parque Nacional de Sete Cidades, junto a importantes sítios arqueológicos de 6.000 anos (inscrições rupestres) e diversas nascentes que brotam nesse clima semi-árido.
Aguçando o imaginário popular, esse cenário de pedras e sítios arqueológicos não se furtou às hipóteses e idéias de escritores e estudiosos que vêem como obra de forças não-naturais, como Erich Von Däniken, (“Eram os Deuses Astronautas?”) Ou obra de homens que poderiam ter estado no Continente em épocas remotas, como os Fenícios, para o historiador austríaco, Ludwig Schwennhagen ou os Vikings, segundo o pesquisador francês Jacques de Mahieu, que esteve no Brasil em 1974 e viu nas inscrições semelhanças com a escrita rúnica (o mais antigo alfabeto germânico). Porém, o que se sabe é que a área correspondia ao território dos índios Tabajaras e Tupinambás e provavelmente foram os seus ancestrais que deixaram as inscrições que estão distribuídas pelo Parque.
A área aberta à visitação pública corresponde a 490 hectares, num percurso de 12 km. O restante da área é restrito para pesquisadores. O trajeto pode ser feito de carro, de bicicleta ou a pé.
A viagem rumo ao Circuito das sete cidades, em geral, tem como apoio a cidade de Piripiri. No entanto o acesso pode ser por Piracuruca (18 km) ou Brasileira.
Instalada no taxi, garrafa de água na mão, chapéu e bloqueador solar devidamente passado, partimos, após fazer o check in e deixar a bagagem no Hotel. Pela BR, 222, em direção contrária a que havia passado cerca de uma hora antes seguimos em direção ao Parque Nacional de Sete Cidades.
Para quem se dispõe a conhecer sozinho este Parque não vai encontrar muitas opções para chegar até lá. De Piripiri, cidade que tem melhor infra estrutura (e mesmo assim não há qualquer transporte público) a alternativa é, não estando em veículo próprio, alugar moto-táxi ou taxi. Quem for do meu time, que não sobe na garupa de uma moto vai pagar o valor de R$ 100,00 para o taxista te levar, acompanhar durante todo o passeio no parque (que pode ser feito de bike) e te trazer de volta à cidade.
Existe um carro que leva os funcionários do IBAMA, todos os dias e pode dar carona para o Parque. Mas para isso é necessário já se encontrar na cidade às 7 horas da manhã e aguardar o seu retorno às 17 horas. No entanto, cerca de 3 horas e meia foram suficientes para se percorrer quase todas as atrações.
À entrada do Parque, 26 km após, passamos por um guarda, onde informamos que estávamos nos dirigindo a uma visita. O acesso inicial em asfalto foi seguido pela estrada de terra conservada e ladeada por verdejantes arbustos. É um lindo caminho e nem de longe parece lembrar que se localiza no Piauí. Afinal, esperava encontrar árvores retorcidas e ressecadas, típicas do clima seco. Mas ao contrário das demais áreas do Nordeste, esta região tem seu período de chuva nesta época.
Ao final do caminho, em uma clareira, há o pequeno centro de visitantes, onde se encontram informações sobre o parque e se contrata um guia para acompanhá-lo, o que é obrigatório.
Há vários circuitos, que variam conforme a quantidade de cidades que se quer conhecer. E valores respectivos que são pagos diretamente ao guia.
Rapidamente contratamos a guia e seguimos para cumprir o nosso circuito inicial, que depois foi estendido para contemplar outras cidades, ficando de fora apenas a primeira cidade.
Entramos no carro e seguimos por uma estrada de terra, alias verdadeira areia de praia! O que serviu para uma observação: será que aqui algum dia, em outras eras, já foi mar? Outras vezes o trecho era pedregoso, com cascalho. Logo chegamos à primeira “cidade”, conhecida como a “SEXTA CIDADE”: pedras da Tartaruga, do Elefante e do Cachorro. As fendas poligonais que recortam a rocha lembram de fato o casco de uma tartaruga. É impressionante o meticuloso trabalho da erosão nessa formação rochosa. A imagem do elefante, só com muito esforço pude discernir, porém a do cachorro, apesar da boa criatividade da guia, a minha imaginação não foi suficiente para encontrá-la naquela rocha.
Um pouco mais além estacionamos o carro e seguimos a pé. Atravessamos o “Arco do Triunfo”, formação que lembra o arco francês, com cerca de 18 metros de altura e que ao atravessá-la podemos fazer três pedidos, desde que não seja ficar rico, bonito e mais jovem.
A "SEGUNDA CIDADE" é formada pela Pedra da Biblioteca, formação rochosa que dizem lembrar uma pilha de livros. A pedra, enorme e alongada que na prática parece mais uma ponte com um imenso vão abaixo por onde atravessamos, depois de subirmos um trecho de pedras.
Porém o que mais me chamou a atenção, depois de presenciarmos o vôo de um gavião que pousou no alto de um imenso paredão, de encontramos um mocó equilibrando-se num galho de árvore, de nos deparamos com diversos calangos e lagartos durante a caminhada, foi a surpresa de ver um grupo de morcegos dentro de um pequeno buraco na Pedra da Biblioteca descansando, tranquilamente, e nem se abalou ao click da minha máquina. Outros habitantes freqüentes são cutias, tamanduá, pacas, seriemas, veado-mateiro, entre outros animais comuns dessa região, mas que naquele momento não quiseram dar o ar da graça.
Dali chega-se a um conjunto de escadas de aço, onde se atinge o Mirante, que junto com o Sítio da Pedra da Inscrição e Sítio da Pedra do Americano completam a Segunda Cidade.
O Mirante, com 82 metros de altura, é o ponto mais alto, permite visualizar as principais “Cidades” e os extensos limites do Parque. Nota-se perfeitamente a irregularidade das formações rochosas, constituindo grupos afastados, uns dos outros pela verdejante vegetação, como se fossem verdadeiras cidades de pedras. O verde que tanto estava me impressionando era aqui representado por árvores baixas e frutíferas, como pequizeiro, mangabeira, murici e araticum.
Seguimos para a “QUINTA CIDADE”, onde se localiza a Pedra da Inscrição, inscrições rupestres de tons avermelhados, algumas lembrando uma hélice de DNA, além da Furna do Índio, com inscrições que lembram rituais de caça. Há a Pedra do Rei, que de costas lembra seu manto e coroa. Logo em seguida, a “QUARTA CIDADE”, onde se destacam as pedras Beijo dos Lagartos, Último dos Moicanos, Cabeça de Águia e o Mapa do Brasil, enorme rocha vazada, onde os contornos lembram o desenho do nosso país. A “Passagem do Índio” é outra rocha, através da qual atravessamos e do outro lado encontramos uma escada de aço que nos possibilitou vencer o terreno mai íngreme. Retornamos ao carro e seguimos até a Gruta do Catirina, segundo contam, na década de 40 (século XX) ali viveu um local por vários.anos afim de cuidar do seu filho doente com ervas medicinais. Um pouco antes passamos pelo túmulo do seu filho.
A "TERCEIRA CIDADE" é onde se encontra a pedra Cabeça de D. Pedro I, que lembra o perfil do rosto do imperador. Os Três Reis Magos, o Furo Solsticial (incidência do sol de 21 a 24/6 provoca um efeito de luminosidade), Mapa do Brasil, com divisões dos Estados, Pedra de Nossa Senhora (na realidade um nicho, que segundo contam, era o local onde colocavam imagens)
O calor geralmente é intenso. Porém o dia estava nublado o que fez o clima estar ameno para percorrer as pequenas trilhas, quando não precisávamos do carro. Mesmo assim, não deixei de tomar as devidas precauções (água, chapéu, protetor solar) e calçado adequado.
A “PRIMEIRA CIDADE”, que não foi visitada, tem uma das nascentes do Parque: Olho d’água dos Milagres, a Pedras dos Canhões, a da Pedra da Gia e floresta de Pedras. Da “SETIMA CIDADE”, apenas foi visitada a Gruta do Pajé.
O Parque abre diariamente, das oito às dezessete horas. Retornando à cidade, fiquei na pizzaria Julio’s, onde saboreei um autêntico almoço nordestino: feijão, arroz e carne de sol.
Após uma circulada pelo pequeno centro da cidade, onde comprei um lanche para a noite e conheci a Igreja, retornei ao hotel Califórnia, simples, mas um bom custo- benefício. Dentro do Parque Nacional há o Parque Hotel Sete Cidades e ao lado, o Hotel Fazenda Sete Cidades, ambos com restaurante e área de camping.
Parque Nacional 7 Cidades
Pedra da Tartaruga
Pedra do Elefante
Arco do Triunfo
Pinturas Rupestres
Pedra do Imperador
Paredão de pedra suspenso: vão do MASP?
O Mapa
O perfil de D. Pedro I
"O Beijo dos Lagartos"
"As 3 Marias"
Toca dos mocergos